O que consiste a teoria das janelas quebradas?
A Broken Windows Theory foi apresentada como resultado de estudos do cientista político James Q. Wilson e o do psicólogo criminologista George Kelling, ambos norte-americanos, que em 1982 publicaram na revista Atlantic Monthly documento em que, pela primeira vez, se estabelecia uma relação de causalidade entre desordem e criminalidade.
Os autores da teoria defendiam que se uma janela de uma fábrica fosse quebrada e não fosse de imediato realizado seu conserto, as pessoas que passassem pelo local presumiriam que ninguém se importava com aquilo e que, naquela região, não havia autoridade responsável por punir os responsáveis pela atitude danosa.
Em pouco tempo, outras pessoas começariam a atirar pedras para quebrar as demais janelas. A evolução não combatida dos danos traria nova presunção àqueles que avistassem aquela mesma fábrica: a de que ninguém seria responsável por aquele imóvel, nem mesmo pela rua em que se localiza. Iniciaria, assim, a desordem da rua e, por conseguinte, daquela comunidade.
CONCLUSÃO: Pequenas desordens evoluiriam para crimes de cada vez maior escala, apontando a sensação de impunidade como latente fomento à atividade criminosa.
Já em 1990, o Professor Wesley Skogan, da Universidade Northwestern de Ciências Políticas, publicou estudo baseado em pesquisa na qual entrevistou treze mil pessoas residentes em bairros de Atlanta, Chicago, Houston, Filadelfia, Newark e San Francisco.
O estudo confirmava a teoria de Wilson e Kelling, afirmando que a relação causal entre desordem e criminalidade era mais forte do que a ligação entre criminalidade e outras características ínsitas a determinadas regiões, caracterizadas pela pobreza ou pelo abrigo de minorias raciais.
Esta constatação é de notável importância, em especial no Brasil, onde são diariamente publicizada na mídia e pelos políticos em geral que a causa única ou principal da criminalidade decorre das diferenças sociais exageradas, da falta de oportunidades de crescimento profissional e intelectual, da pobreza e da precária qualidade do ensino público. Dada a importância da teoria em comento, cumpre narrar como Kelling e Wilson chegaram a essas conclusões.
Os apontados estudiosos, em suas experiências, se valeram de dois carros, tendo abandonado um deles num bairro de extrema pobreza e outro em local residencial luxuoso de Nova Iorque. No dia seguinte o carro da periferia estava completamente destruído, depenado. Já o carro do bairro rico continuava intacto. Deixaram o veículo por mais alguns dias abandonado na área nobre, sem que nada acontecesse, até que, já começando a acreditar que a pobreza tinha relação causal direta com a criminalidade, um dos pesquisadores teve brilhante idéia que consistia justamente em “QUEBRAR DUAS JANELAS DO CARRO QUE ESTAVA NO BAIRRO RICO”.
Assim o fizeram, abandonando o veículo mais uma vez. No dia seguinte o carro estava depenado. Chegaram então à conclusão de que o que estimula a prática do crime não é necessariamente a pobreza (falta do Estado na implementação de políticas públicas), mas a sensação de impunidade.
A teoria veio afirmar que: Todo crime deve ser rigorosamente punido. Todo delinquente começa praticando pequenos delitos. Não sendo punido ele vai cometendo crimes cada vez mais graves e violentos. Assim, punindo-se os crimes de pequena gravidade, podemos combater os de maior hediondez.
“Não precisamos esperar que o carro seja roubado para punir alguém, bastando que a janela seja quebrada para que o agente seja punido” (informação verbal).
As conclusões desse estudo demonstram, sob outra ótica, que a inércia ou mesmo lentidão estatal em punir e reparar os crimes e danos ocasionados por infratores faz crescer na população o sentimento de impunidade que, pelas conclusões a que chegaram os estudos de Wilson e Kelling, certamente contribui para o aumento da criminalidade.
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27 Comentários
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Parabéns Dra. Mais uma excelente publicação! continuar lendo
Obrigada, Peterson! continuar lendo
Ótimo texto.
Em verdade, não é estranho que o Brasil - mesmo longe de ser um país dos mais pobres do mundo - seja assolado pela violência, e mesmo comparando-se com alguns de seus vizinhos. Não é estranho porque a adoção de política criminal completamente desconectada da realidade, fundada apenas em ideologias e mitos - como o do bom selvagem - não produziriam outro resultado. Nossa tragédia não é um fenômeno natural, inexorável. É algo construído.
Ainda assim, mesmo tendo uma base legislativa nacional ineficiente comum, a variação de políticas criminais estaduais altera razoavelmente os resultados:
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/uma-pessoa-e-assassinada-a-cada-dez-minutos-no-brasil
...
E por exemplo, como contraponto à tese de que apenas educação, POR SI SÓ, afastaria a criminalidade (obviamente que a educação é importante, mas o exemplo a seguir é apenas mais um a demonstrar que ela não impede que haja opção pelo crime):
http://oglobo.globo.com/rio/dos-23-alunos-que-estudaram-juntos-ha-mais-de-30-anos-numa-escola-publica-em-caxias-apenas-o-2997879 continuar lendo
A propósito: http://kjungle.jusbrasil.com.br/artigos/357217777/chega-de-ideologia-um-pouco-de-profissionalismo-por-favor continuar lendo
A propósito 2: acerca do mito do bom selvagem, leiam o livro Tábula Rasa, do neurocientista Steven Pinker. Também indico os livros do Thomas Sowell e do Theodore Dalrymple. continuar lendo
Dra., excelente texto. Parabéns! continuar lendo
Obrigada, Leonardo!! continuar lendo
Um cidadão, ou seja , um membro de uma sociedade que recebeu educação, talvez se prontificasse a consertar as janelas, mas jamais quebraria outras.
Essa teoria explica um momento, um local, nada mais.
Em tempo: Em bairros ricos, circulam pessoas pobres.
E? continuar lendo